Santa Catarina desperdiçou 34,68% da água tratada em 2022, segundo aponta uma pesquisa do Instituto Trata Brasil (ITB) divulgada nesta quarta-feira (5). Isso significa uma perda diária equivalente a 266 piscinas olímpicas, em que o volume poderia abastecer uma cidade do tamanho de Joinville, no Norte do Estado.
— São 315,52 litros por ligação por dia perdidos no sistema de distribuição [em Santa Catarina]. Esse volume de água poderia abastecer 615 mil pessoas — destaca Luana Pretto, presidente-executiva do ITB.
O resultado de Santa Catarina se aproxima do verificado em cenário nacional, que indica prejuízo de 37,8% da água potável naquele ano. Conforme o levantamento, a cada 1 mil litros de água potável produzido no Brasil, 378 são perdidos antes de chegar às casas. Em um ano, o montante poderia abastecer 54 milhões de pessoas.
O que pode ser feito para melhorar os números
A pesquisa considera que a perda de água durante o abastecimento pode ocorrer, mais comumente, por conta de vazamentos, erros de medição e consumo irregular. Luana afirma que, para que haja redução no desperdício de água tratada, é necessário a existência de um programa de redução de perdas com ações estruturadas e constantes.
Ela cita, por exemplo, a importância da existência de uma modelagem hidráulica do sistema de distribuição em cada uma das cidades que seja capaz de identificar os pontos de instalação de válvulas redutoras de pressão e, consequentemente, possíveis vazamentos ou rompimentos nas tubulações.
Assim, as concessionárias responsáveis pelo abastecimento poderiam agir com maior agilidade em consertos. Quanto mais ágil for a empresa, menor será o vazamento e, também, a perda de água.
— É necessário setorizar as cidades em pequenos distritos de medição e controle para que se possa instalar sensores de vazão e pressão e, desta forma, identificar, quase que em tempo real, onde estão os vazamentos, principalmente os ocultos, que são os vazamentos que não afloram na superfície do pavimento — aponta.
A presidente do Instituto Trata Brasil também defende programas de fiscalização e redução de fraudes em instalações, como os populares “gatos”. O levantamento mostra que com erros de medição dos hidrômetros e outros problemas, o volume de água perdido chegou a 7 bilhões de metros cúbicos em 2022 — ou 7,6 mil piscinas olímpicas cheias desperdiçadas por dia.
Além disso, indica a existência de programas de tarifa social e projetos para o fornecimento de água em áreas irregulares para que a população mais vulnerável também possa ter acesso ao item essencial, dentro da regularidade.
O prejuízo deste desperdício, segundo Luana, também tem reflexos nos âmbitos econômico e social. Isso porque a perda é uma ineficiência na operação da concessionária de saneamento básico, que utiliza o produto químico para o tratamento e energia elétrica para a distribuição, que entram no custo operacional. E este valor adicional vai para a fatura do cidadão.
— Já do ponto de vista ambiental, estamos captando muito mais água do que o necessário para abastecer a população, e isso traz um impacto nos nossos rios num cenário de mudança climática, onde muitas vezes, em determinadas épocas do ano, a vazão dos rios acaba sendo impactada por conta da alteração do regime de chuvas. Então a gente precisa pensar não só apenas em construir novas estações de tratamento de água, mas sim em disponibilizar mais água no sistema de distribuição por meio da redução de perdas — enfatiza.
É possível zerar o desperdício?
No Brasil, a definição de nível aceitável de desperdício de água, estabelecida pelo Ministério do Desenvolvimento Regional, é de, no máximo, 25% de prejuízo na distribuição até 2034. De 2021 para 2022, houve redução de 2,5% do desperdício, mas o volume perdido ainda é superior ao exigido.
Para a presidente do instituto a meta é possível de ser atingida, mas, para isso, defende que o tema precisa estar mais presente na agenda pública. Luana cita que zerar este número seja pouco factível, mas acredita na diminuição das perdas com o passar das décadas, principalmente se a causa tornar-se prioridade entre os governos. A especialista cita que em países desenvolvidos, por exemplo, a média de perdas é de 15%.
— Acho que esse tem que ser o nosso alvo como país, chegar em pelo menos 15% de perdas, mas a gente precisa ir caminhando ao longo desse processo. Então, a primeira meta é de 25% nos próximos 10 anos, possível de ser realizada. Após isso, estabelecer novas metas para que a gente chegue no cenário dos países desenvolvidos — opina.
O estudo usa dados de 2022 do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento. A pesquisa fez uma análise nacional com recortes de dados das cinco macrorregiões do país, dos 27 estados e, também, dos cem municípios mais populosos presentes no Ranking do Saneamento de 2024.
Goiás teve menos perda entre as unidades da federação, com 28,3% de prejuízo. Já o Amapá, com 71,1%, lidera o ranking de desperdício. Em todo o país, apenas nove das cem cidades avaliadas têm perdas menores que 25%. São eles:
- Goiânia (GO): 17,3%
- Campo Grande (MS): 19,8%
- Limeira (SP): 20,2%
- Petrópolis (RJ): 23,4%
- Campinas (SP): 20,2%
- Maringá (PR): 23,4%
- Suzano (SP): 23%
- São José do Rio Preto (SP): 20,5%
- Caruaru (PE): 24,6%
NSC TOTAL